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O Encontro Inusitado com o Ídolo

Em 1999, morava em Copacabana.


Estava procurando emagrecer e, para isso, caminhava, diariamente, do Posto 3, onde morava, até o Leblon, e depois voltava.


Ia para o calçadão de Copacabana, ia andando até o Posto 6, atravessava a Bulhões de Carvalho para Ipanema, na altura do Arpoador, seguia pelo calçadão da praia de Ipanema, passava o Jardim de Alah, seguia no calçadão do Leblon até o fim, para depois fazer tudo em sentido oposto.


Dava bem uns oito a nove quilômetros de caminhada, no mínimo.


Depois de um tempo, passei a estender a caminhada até a altura do Hotel Sheraton, em frente ao Morro do Vidigal, mas isso é outra história.


É claro que preparava meu jurássico, já na época, walkman, abastecido de músicas que gostava, enquanto caminhava.


Tinha algumas fitas de música que poderia usar, mas quase sempre, levava, como fita no walkman, a mesma peça: músicas gravadas de Chico Buarque de Hollanda.


Chico era meu ídolo maior, na seara musical.


Sempre foi!


Naquela quinta feira, por volta de 14:30 horas, saí para fazer a caminhada, ouvino as músicas de Chico.


Quando estou quase chegando no Jardim de Alah, vejo um mancebo vindo na direção contrária.


O cara também estava caminhando, mas em passos muito ágeis, ao contrário de mim, o gordo, que tinha passos bem mais lentos.


Aquele homem que vinha se aproximando de mim, mas andando em direção contrária, me pareceu familiar desde que o avistei de longe.


Lá na fita, tocava a música “Construção”, uma dais mais geniais do Chico.


O homem chegou mais perto, e aí soube de quem era aquele rosto familiar.


Ele mesmo!


Chico Buarque de Hollanda!


Fiquei atônito, vendo o meu ídolo chegar cada vez mais perto.


O que fazer?


Ajoelhar em frente ao gênio?


Parar, pedir um minuto da atenção, e mostrar para ele que, naquele exato momento, ouvia uma de suas obras primas?


Dar-lhe um abraço, para ver se pegava fluidos de genialidade?


Sabia que Chico era tímido, bem assim como eu.


E, para não o importunar, decidi que não faria nada do que desejava.

Assim foi.


Chico passou normalmente ao meu lado, sem que eu esboçasse reação.


Ele, na maior naturalidade.


Eu, no maior êxtase!


Chico se foi, ainda olhei para trás, vendo seu vulto desaparecer na distância.


Cheguei ao final do calçadão do Leblon, comecei o caminho de volta.


E, ali, perto do Hotel Marina, quem avisto novamente?


Ele, Chico Buarque de Hollanda, que também fazia seu caminho de volta.


Novo dilema.


O que fazer, desta vez?


Ajoelhar em frente ao gênio?


Parar, pedir um minuto da atenção, e mostrar para ele que, naquele exato momento, ouvia outra de suas obras primas (“Tatuagem”)?


Dar-lhe um abraço, para ver se pegava fluidos de genialidade?


Rapidamente, pensei que, na primeira vez, se não o importunei, não seria agora que iria fazê-lo.


Ia ficar até ridículo...


“Pô, esse cara não me aborreceu quando cruzei com ele antes, vem me aborrecer agora?”, deveria pensar o gênio.


Não quis ser inconveniente.


Deixei o cara seguir.


De lá para cá, só vi Chico ao vivo e em cores em um show dele, que fui com a minha esposa, em Dezembro de 2017.


Mas não era a mesma coisa...


Fiquei há uns 50 metros de distância do palco.


Pensar que, 18 anos antes, tinha estado ao lado dele duas vezes, no momento em que ouvia músicas dele.


Será que, algum dia, o verei, terei a chance de conversar com ele e contar esta inusitada história?


Quem sabe!

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